segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Coisas que imaginei que ele pensasse

Na minha cabeça tudo ainda é um filme, eu gosto de repetir as cenas algumas vezes todos os dias, assim evito deixar de dar risadas sinceras. Eu gosto. Gosto de imaginar que é assim que sou vista:

"Ainda espero que ela suba as escadas fazendo barulho  todas as manhãs e abra a porta, fazendo meu dia finalmente se iluminar. Um único meio cacho preso por um grampinho que provavelmente ela achou perdido no chão do quarto, é seu jeito de dizer que 'sim, eu penteio os cabelos' . Os cadarços imundos arrastando pelo carpete, um olho aberto, o outro semi aberto. É meio impossível não esperar que venha até onde estou e me abrace tão carinhosamente. É meio impossível não retibuir.

Dificilmente ela diz 'olá'. Provavelmente ela dirá algo sobre estar cega, caolha, com frio, alguma coisa no youtube. Nunca um 'olá, como vai'. Eu gosto do fato dela ser levemente mal-educada. As vezes vejo um pouco de mim mesmo nela, em seu incoformismo com as coisas, a maneria de conseguir fazer três coisas ao mesmo tempo e ainda ter um tempo pra escrever um e-mail perguntando como vai esta força na pança gorda.

Meus sentimentos pela pequena roedora de unhas -  'um roedor sempre reconhece outro', ela disse - ainda são indefinidos. Não tenho certeza se gosto dela porque ela parece minha versão um pouco mais simpática usando calcinhas, se gosto dela porque se tornou uma amiga dessas que eu tenho vontade de ligar às três da manhã cantando atirei-o-pau-no-ga-to, ou porque se tornou alguém de quem eu tenho que me afastar, antes que eu tome uma decisão não muito sensata. Ela tem uns 35 cm a menos do que eu, de modo que o único carinho que lhe dou agora é uma gravata, de leve, desmanchando o resto de cacho que vai se desprendendo do grampo ao longo do dia. Gostaria de poder dar  muito mais. Mas não posso. Não sou a pessoa mais decidida do mundo, infelizmente.

Ultimamente evito me abrir com ela, tenho medo que ela leia o que se passa na minha cabeça. Eu nem senti e ela já está sentindo por mim, sempre adiantada, geralmente, certa. Tenho medo dela. Acho que já fui apaixonado por ela, mas agora, não sei se está tudo escondido no sótão ou se tudo foi real, ou se foi tudo coisa da minha cabeça. Eu só queria voltar no tempo. Ou não.

Não quero que ela me deixe, mas certamente, ela o fará. Tenho medo do dia em que não ouvirei mais os passos curtos nos degraus. Quando não ouvir mais, eu tenho certeza de que ela nunca mais virá me abraçar."

é claro
que é tudo mentira.


twitter:denovodezoito
e-mail:denovodezoito@hotmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Pois é! Também fico imaginando o outro me imaginando, rs! Claro, como a imaginação é minha, uso isso em meu favor! Torna a dor menos insuportável!

Beijos!

 

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