quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tresloucada e deslocada

É claro que somos os melhores amigos do mundo, duma cumplicidade ímpar. Já o odiei muitas vezes e já o adorei outras tantas, mas o fato é que não quero falar sobre nós, nem sobre o porta moedas que me lembrou os mistos quentes que minha irmã fez uma ou duas vezes quando éramos cúmplices eternas. Quase pude sentir o cheiro do pão tostado, e estou chorando de verdade de lembrar coisas sobre eu e ela que me doem lembrar. Não ter ela aqui comigo, como sempre foi nos últimos 25 anos, é como se tivessem arrancado um pedaço da minha pele.

Nunca gostei de lhe emprestar sapatos, porque ela pisa torto, ela perde o taquinho dos saltos, ela tem chulé. Sempre emprestei com um sorriso no rosto. Ela me pedia dicas de maquiagem quando ia sair e eu ficava ao lado dela, 14 anos, espinhas na cara, olhando tudo. Não adianta, eu sempre fui colorida e estética. Ela nunca teve coordenação com os pincéis de sombra. Nunca gostou de nada sobre História e Geografia. Se enfiou embaixo da toalha de mesa num jantar elegante, porque "meu Deus, são muitos talheres, eu não sei por onde começar!", enquanto eu dizia, "é de fora pra dentro, de fora pra dentro!".

Ela sempre me trouxe presentes exóticos. Um deles foi um bolero de veludo molhado, usado 5X. "Foi a coisa mais ridícula que encontrei na viagem. Se é ridículo vai ficar incrivelmente moderno e fashionista em você, não sei como que pode...". Ela é muito clássica, e como é, vamos dizer assim, voluptuosa - TIRA O ZÓIO DA MINHA IRMÃ, SEU MANÉ - não fica bem com metade das roupas fashionistas e esquisitóides que eu uso pra sair. Tipo camiseta do Mickey detonada + saia jeans + sapato de salto 12 listrado. Não, nunca. Ela é como... como Elle Woods, excessivamente cor de rosa e adorável. Com um quê de Valesca Popozuda, mas assim, um quêzinho de nada mesmo, só pra dar um charme (Valesca é ÍDALA e quem discorda merece morrer empalado).

Não entendo porque uma droga de porta-moedas me deprimiu tanto hoje à tarde. Triangular, me lembrou na hora o tal misto quente.  De todas as brigas por causa do computador, resolvidas quando instalaram um PC no meu quarto. Do único homem que ousamos dividir alguns dias. De como me faz falta. Em quase dois anos, nunca ousei chorar por isso. Sou forte. Não é que ela mereça. E então eu choro porque nunca tive o mesmo brilho, as mesmas sardas, a mesma sorte (E daí ela vai dizer a mesma coisa sobre mim, só que sem as sardas, talvez ela coloque um: "usar roupas ridículas sem ficar ridícula" no lugar).

E daí que é por isso, tudo por causa de um maldito porta-moedas cafona de couro sintético, que eu estou assim, assim, sem um pedaço.

Porque ela e simplesmente a pessoa que eu mais amo no mundo todo, sempre fiz questão de esbravejar isso pra quem quisesse ouvir, desde que entendi que alguém que teve a pachorra de escolher meu nome no lugar da minha mãe, sendo apenas um toquinho magricelo de oito anos merece muito mais do que todo o dinheiro do mundo pode dar. Não sei nem dizer o que ela merece de verdade. Não cabe num texto, nunca caberá. NUNCA.

E também estou triste poque tenho uns 30 anos a menos que a Maitê Proença e ela tá melhor de corpo que eu.

Pronto falei.

Acho que isso responde sua pergunta, meu querido.

twitter: denovodezoito

Christina


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